Em uma semana que eu gostaria de debater sobre as intermináveis greves que tão gerando como resultado único a perturbação de quem não só não tem culpa, como paga muito caro pra ter os serviços cortados pelos grevistas, mil e uma coisas acontecem gerando revolta e brigando por um espaço nessa coluna. Estão todas terão, afinal, um caos generalizado desses não pode passar em branco.
Os correios voltam a funcionar depois de quase um mês de paralisação; o resultado prático disso é um volume de correspondência muito superior à capacidade de entrega dos carteiros e, a partir daí, começa o caos maior de encomendas que jamais chegarão ao seu destino, cartas no limbo de algum depósito, contas vencidas, correspondências oficiais que, por não terem sido entregues a tempo, deram e darão ainda muita dor de cabeça aos seus destinatários. E ainda temos que ficar felizes que estamos na era do e-mail e do boleto eletrônico.
De outro lado, bancários paralisados. Em greve. Mais uma vez contas atrasadas, benefícios congelados, caos nas lotéricas e filas quilométricas quando esse pessoal decidir olhar ao redor e ver que estão prejudicando quem paga seus salários. Isso em uma empresa privada é motivo de demissão por justa causa.
Antes do linchamento virtual, devo dizer que não sou contra a greve, já defendi nesse espaço antes, eu sou contra o abuso, o exagero, porque o único resultado prático dessa mobilização é prejudicar o contribuinte, porque só quem sofre é quem vai agora enfrentar filas de horas pra resolver seus problemas, ou teve algum serviço cortado porque a conta não chegou e o banco tava fechado pra pagar pelo mesmo.
Na verdade esse é o gancho para os assuntos seguintes, considerando que seres humanos tem por hábito não respeitar as necessidades e os interesses de seus semelhantes, pensam somente no que é melhor para si e esquecem que muitas vezes isso prejudica de forma crucial a vida de outros seres humanos. Por exemplo: essa semana uma jovem estudante foi humilhada em público, em uma rede social, pelo perfil de uma empresa.
O que uma coisa tem a ver com outra? Simples: desrespeito por quem paga seu salário. A jovem era cliente da empresa, foi humilhada publicamente e o responsável pela atrocidade ignorou o fato de que sem ela, o rendimento da empresa cai. A parte interessante desse cyberbullying deplorável é que a história se espalhou e a empresa vai pagar muito caro pela atitude irresponsável e imbecil do “profissional” que proferiu os insultos à sua cliente.
Mas o caos vai além e chega a um nível alarmante quando a violência deixa de ser verbal e passa a ser física. Não posso deixar de comentar o caso da jovem que nunca mais vai esquecer a “delicadeza” de um pretendente. Por bom gosto e bom senso, a jovem em questão resistiu às investidas de um verdadeiro selvagem e terminou com placas e pinos no braço. Tudo registrado, tudo gravado, o rosto e o nome dele espalhados pela web e o meliante ainda em liberdade, certamente gargalhando com a fama recém adquirida depois de um longo histórico de maus tratos às mulheres que passaram pela sua vida. Se tem mulher que se cara com serial killer na cadeia, o doce marginal certamente vai ganhar suas pretendentes também, enquanto sua mais recente vítima ostenta sem nenhum orgulho as marcas de saber escolher de quem manter distância.
Eu vi o vídeo, eu vi a foto do braço dela e é inegável que esse homem não faz jus à condição humana que lhe é atribuída por ser bípede e se comunicar através de língua alfabética. Nada, além das características biológicas, o atribui o status humano e ele não é melhor que qualquer bandido virando donzela em presídio superlotado. Espero sinceramente que a justiça não espere ele fazer sua primeira vítima fatal antes de tirá-lo de circulação, que é o que geralmente acontece com esse tipo de agressão. Fiquem atentas, autoridades, um homem que quebra o braço de uma estranha em duas partes na pista de dança de uma boate pode sim vir a cometer crimes piores, mais graves, na intimidade do seu lar.
Então temos aí um grupo de pessoas cuja luta pelos seus direitos viola de forma drástica aqueles que pagam seus salários, a cliente publicamente insultada pela empresa que deveria lhe atender com respeito e empenho, e a linda jovem que teve seu corpo pra sempre marcado por recusar as investidas de um selvagem. E olha que eu nem comentei de um certo humorista que numa piadinha estúpida e sem graça fez graves apologias à pedofilia (e cujo humor de gosto duvidoso já provocou muitas iras antes); mas esse assunto dá pra deixar para outro momento, duvido que o rapaz em questão vá conseguir se manter longe dos holofotes da polêmica por muito tempo.
De resto, é esperar que as coisas voltem ao seu lugar, porque soluções definitivas nunca existirão; sempre vai ter pessoas que consideram seus direitos mais importantes que as necessidades de toda a sociedade, sempre vai ter empresas desrespeitando seu cliente (mesmo que não desça ao mesmo nível dessa comentada) e sempre vai ter homens (ou mulheres, porque sim, existem casos de mulheres que batem nos homens) que vão se utilizar de sua superioridade física para prevalecer na força a sua vontade sob pena de causar muito dor a quem ousar lhe dizer “não”. É, espero sinceramente que as coisas voltem ao seu lugar.
Maya Falks é escritora, publicitária e roteirista. Contista premiada, é editora de blog homônimo e apaixonada por literatura, música, cinema e propaganda, sendo devotada às palavras em suas mais diversas manifestações.
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